DO QUE A CRUZ
O apóstolo Paulo pediu ao Senhor que o livrasse de um espinho:
"E para que me não exaltasse pela excelência das revelações, foi-me dado um espinho na carne, a saber, um mensageiro de Satanás para me esbofetear, a fim de me não exaltar. Acerca do qual três vezes orei ao Senhor para que se desviasse de mim" (II Coríntios 12:7,8).
O que desejamos destacar no episódio é que um espinho pode ser uma cruz: uma cruz disfarçada em espinho. Aquele valia por uma.
É verdade que uma cruz é um madeiro e que espinho não passa de uma felpa de madeira. Cravado numa cruz ou crivado por um espinho, o homem sofre horrores. Espinho é como cravo: tem a ponta afiada.
E pode ser pior do que cruz porque esta dura um dia ou alguns, ao passo que aquele pode durar a vida inteira, como foi o caso do apóstolo, a quem o Senhor respondeu simplesmente:
"A minha graça te basta porque o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza" (ll Coríntios 12:9).
São provações que duram. Que vêm para ficar. Que precisam ser curtidas em câmara lenta. Pacientemente. São estrepes que se cravam na alma de quem atravessa a paisagem agreste deste mundo. São muitos: um casamento infeliz, uma família mal ajustada, filhos que dão o que chorar, um amor contrariado, uma desilusão, um empreendimento mal sucedido, um objeti-vo malogrado, uma aspiração insatisfeita, uma doença incurável, um defeito físico, um trofeu perdido, uma grande ausência, uma saudade amarga, um passado que marcou o resto da vida, um lar desfeito...
Acúleos que ferem. Que ferem sem parar. Como se fossem cravos do tamanho de alfinetes.
Cristo teve duas cruzes: uma na vida e outra na morte. A primeira, feita de espinhos; a segunda, feita de madeira. Uma durou três anos, que foi quanto durou o seu ministério; a outra durou algumas horas, o tempo que ele levou para morrer. Deram-lhe os homens não apenas uma coroa de espinhos, mas pior do que isso: deram-lhe uma cruz de espinhos. Foram os sofrimentos de seu dia-a-dia. Incontáveis.
E se Deus não nos tira essa cruz disfarçada em espinho? Muito simples: é fazer como Paulo — "A minha graça te basta". A graça divina ainda é o sedativo que abranda a dor de qualquer espinho, por mais fundo que ele fira.
Pastor Rubens Lopes, 1914-1979
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